Na sequência do ChatGPT, da OpenAI, e do Bing Chat, da Microsoft, a Google reagiu com o seu próprio chatbot de Inteligência Artificial (IA) experimental: Bard.

 

Lançado em março de 2023 e até agora presente em mais de 180 países, o Bard tem enfrentado alguns desafios pelo caminho – sendo o mais recente o adiamento do lançamento europeu devido a questões de privacidade. Falaremos disso mais à frente.


Mas como funciona exatamente o Bard? O que o diferencia do ChatGPT que já conhecemos? Que desafios enfrenta a nível de privacidade e segurança? Como se espera que evolua no futuro? Estas são as perguntas a que responderemos ao longo deste artigo.

 

Como funciona o Google Bard?

Funciona de forma semelhante ao ChatGPT, na medida em que é uma IA generativa que aceita pedidos (prompts) e executa tarefas de geração de texto, como escrever código, fornecer respostas, resumos e outras formas de conteúdo escrito.


A versão inicial do Google Bard era alimentada pelo modelo de linguagem LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo), mas evoluiu recentemente para a utilização do modelo de linguagem mais avançado da Google, o PaLM 2 (Modelo de Linguagem Pathway) – diz-se que tem um melhor desempenho em tarefas de raciocínio, incluindo lógica, código e matemática.

 

Quais as diferenças em relação ao ChatGPT?

Existem algumas diferenças fundamentais entre os dois chatbots, nomeadamente:

  • Modelo de Linguagem (LLM)
    Enquanto o Google Bard se baseia no PaLM 2, o ChatGPT utiliza o Generative Pre-trained Transformer 4 (GPT-4). Ambas as tecnologias foram criadas para detetar e replicar padrões de discurso humano, mas funcionam de forma diferente e estão a ser estudadas para comparações de desempenho.

  • Fonte de informação
    O ChatGPT foi concebido para fornecer respostas publicadas online até 2021, enquanto o Bard consegue obter informações em tempo real diretamente da Internet. Isto confere ao Bard uma vantagem em termos de atualidade dos seus conhecimentos.

  • Produção de conteúdo
    O ChatGPT é mais sensível aos estilos de linguagem solicitados pelos utilizadores, o que significa que pode gerar respostas longas num estilo específico que satisfaça os requisitos do utilizador. O Bard, por outro lado, fornece sobretudo declarações curtas e ligações a outras fontes online, onde os utilizadores podem encontrar mais informações – basicamente, ajuda a navegar o Google Search de uma forma mais eficiente. Além disso, foi recentemente atualizado para incluir imagens nas suas respostas.

 

Será utilizado para apoiar o Google Search?

É esse o plano, sim. Quando a Google anunciou o lançamento do Bard, disse que o objetivo era trazer esta inovação para os seus produtos, começando pela Pesquisa. 


A ideia é implementar as funcionalidades do Bard na Pesquisa, de forma a ajudar os utilizadores a consumirem informação em formatos mais digeríveis, em vez de a obterem complexificada a partir de várias fontes.


No entanto, é evidente que o Bard não se destina a substituir a Pesquisa, mas sim a complementá-la.

 

Questões de privacidade

A Google ainda não lançou o Bard na União Europeia (UE), uma vez que a Comissão de Proteção de Dados bloqueou o seu lançamento devido a questões de privacidade. De acordo com o regulador de dados sediado em Dublin, que é a autoridade supervisora do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), a empresa tecnológica não forneceu, até agora, informações suficientes sobre a forma como o Bard protege a privacidade dos europeus.


A Google afirmou que está a abordar esta questão. "Dissemos que queríamos tornar o Bard mais amplamente disponível, incluindo na União Europeia, e que o faríamos de forma responsável após conversas com especialistas, reguladores e decisores políticos. Como parte desse processo, temos estado a falar com os reguladores de privacidade para responder às suas questões e ouvir os seus comentários”, garantiu um porta-voz.


De acordo com a Data Protection Officer (DPO) da Alter Solutions, Inés Chenouf, “a proteção dos dados pessoais continua a ser uma questão a que as empresas digitais prestam pouca atenção”. “A proteção dos dados pessoais é um elemento fundamental a ter em conta quando se fala de Inteligência Artificial. No caso específico do Bard, a invasão da privacidade pode ser uma consequência da aprendizagem automática. Por outras palavras, esta ferramenta tem a capacidade de aprender com os dados que usa, através de algoritmos, pelo que a sua aplicação pode significar a utilização indevida de dados pessoais. Isto cria atrito com o RGPD, nomeadamente com os princípios da confidencialidade e da transparência. Além disso, a utilização intensiva de dados pode levar a enviesamentos que podem afetar negativamente os utilizadores”, afirma.


Perante este cenário, a Google terá de garantir a transparência na recolha e utilização dos dados dos utilizadores, se quiser que o Bard seja lançado na UE. “Isto significa minimizar os dados, criar comités de ética e aproximar a gigante empresa americana das autoridades de controlo locais para limitar os riscos e estabelecer uma relação de confiança com os utilizadores europeus", explica Inés Chenouf. “Isto é ainda mais importante após a decisão da Comissão Europeia, a 10 de julho de 2023, de adotar uma nova decisão sobre as transferências de dados entre a UE e os EUA. É seguro dizer que os dados utilizados pela Bard podem ser transferidos para filiais nos EUA. É por isso que a proteção dos dados pessoais e, por extensão, a conformidade com o RGPD é uma questão tão fundamental”.

 

Questões de cibersegurança

Do ponto de vista de cibersegurança, os chatbots como o Google Bard são muito seguros, porque não utilizam tecnologias tradicionais como o SQL, e a maioria das vulnerabilidades vem desta área. Isto significa que todas as preocupações de segurança virão de questões de privacidade.


Para as empresas, especificamente, a melhor solução para as questões de privacidade é executar a IA no local, nos seus servidores, utilizando um modelo de linguagem como este.

 

Por curiosidade…porquê o nome “Bard”?

A palavra (em português, “Bardo”) significa “poeta” e refere-se especificamente a William Shakespeare, conhecido como “o Bardo de Avon”. O objetivo é realçar as capacidades linguísticas do chatbot.

 

 

Informação adicional:

A União Europeia aprovou recentemente o Regulamento de Inteligência Artificial, a primeira lei abrangente do mundo sobre IA. Esta lei classifica toda a IA de acordo com diferentes níveis de risco:

  • Risco inaceitável
    Inteligência Artificial que viola direitos fundamentais e será proibida (ex.: identificação biométrica em tempo real, em espaços públicos; manipulação de pessoas vulneráveis, como crianças).

 

  • Risco elevado
    IA que tem um impacto negativo na segurança das pessoas ou nos seus direitos fundamentais, e que será cuidadosamente avaliada antes de ser colocada no mercado (ex.: sistemas de IA utilizados em áreas como a gestão e operação de infraestruturas críticas, aplicação da lei, gestão de controlos fronteiriços, entre outros).

  • Risco limitado
    IA que tem de cumprir requisitos específicos de transparência, para que os utilizadores tenham plena consciência de que estão a interagir com uma máquina (ex.: chatbots como o ChatGPT e o Google Bard).

  • Risco mínimo ou nulo
    Quase todos os sistemas de IA utilizados na UE pertencem a esta categoria (por exemplo, filtros de spam).
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